Antônio da Cruz, o Poeta do Aço, guarda em seus versos uma quimera formada por lugares da cidade de Aracaju misturada com elementos de uma realidade sonhada pelo autor, com toques futuristas, naves e objetos voadores. Na série produzida em 2017 por inspiração da arquitetura da sua cidade, o artista convida o olhar para uma poética social onde os diversos Mundos são construções feitas de perspectivas lúdicas arquitetônicas.
Mundos 4 retrata uma perspectiva da Ponte do Imperador que, construída em 1860, serviu para receber o rei D. Pedro II e sua comitiva. A ponte passou por duas reformas oficiais, em 1904 e 1920, e por uma reforma extraordinária, em 2017, orquestrada pela imaginação do Poeta do Aço, que a transladou para este mundo, onde as pessoas viajam em seus transportes voadores. Teria a Ponte do Imperador, neste Mundo, se tornado um ancoradouro de veículos aéreos particulares? Podemos observar situações semelhantes em Mundos 1, Mundos 3 e Mundos 5.
Antônio da Cruz, Mundos 1, 2017, Gravura em metal (aço por holoesgrafito), 126 x 40 cm.
Antônio da Cruz, Mundos 3, 2017, Gravura em metal (aço por holoesgrafito), 126 x 40 cm.
Antônio da Cruz, Mundos 5, 2017, Gravura em metal (aço por holoesgrafito), 126 x 40 cm.
E Cidadela Flutuante vemos um projeto arquitetônico de visual mirabolante. O objeto que sobrevoa a ponte que une as cidades de Aracaju e Barra dos Coqueiros é a tal Cidadela Flutuante, e cada compartimento redondo na ponta de suas hastes é um apartamento. Será que o futuro onde pessoas viverão em condomínios que se mantém suspensos no ar está muito distante? Ou será que estamos ainda muito distantes de andarmos em skates voadores?
Antônio da Cruz,
Skates Voadores em Torno de Fonte, 2017
Gravura em metal (aço por holoesgrafito), 60 x 40 cm
Antônio da Cruz,
Cidadela Flutuante, 2017
Gravura em metal (aço por holoesgrafito), 60 x 40 cm
Ao contemplar estes versos do Poeta do Aço me questiono: quantas vezes a arte foi um Oráculo? Quantos momentos na história não foram previamente retratados em pinturas, romances, poemas… Inclusive, o célebre médico neurologista, psicólogo e psicanalista, Sigmund Freud disse: “Aonde quer que eu vá, eu descubro que um poeta lá esteve antes de mim.” Freud não se referia a lugares físicos, logicamente, mas a ideias, pensamentos e teorias. Ou seja, ele declara que tudo que pensou e formulou em suas teorias já haviam, na realidade, sido tratadas, abordadas e discursadas em poemas. Então, além de seu caráter profético quanto à engenharia, arquitetura e estruturas sociais, a arte também carrega esse mesmo dom para as questões teóricas, filosóficas e humanas.
Salvando as distâncias, um exemplo semelhante ao que se dá nas gravuras de Antônio da Cruz é encontrado nos desenhos e projetos engenhosos de Leonardo Da Vinci. Pintor, escultor, matemático e químico, esboçou visões que viriam a ser na história humana um helicóptero ou um traje de mergulhador, entre outras invenções que, naquela época, eram impossíveis de executar. Podemos estar defronte de um processo semelhante com a narrativa de Antônio da Cruz, que mistura a arquitetura, e engenharia e a química, em gravuras de Mundos sonhados por um Poeta que poderiam ser parte de mundo dos que acordem amanhã.
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