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Foto do escritorEstoriteler

Aracaju e sua tragédia central

Atualizado: 31 de out. de 2021

Fausto Cardoso avança, desarmado, pela praça. O exército brasileiro protege o palácio de governo. Um soldado dá o aviso e, depois, atira. O sergipano cai a uns quantos metros donde hoje se encontra sua estátua. As tropas respondem aos interesses do senador monsenhor Olímpio Campos. Seis meses mais tarde, os filhos de Fausto matarão a tiros o 'mandante', no Rio de Janeiro; os rapazes acertarão o religioso em cabeça e ombros.

Como em todas as épocas e em todos os lugares, a sociedade aracajuana do início do século XX se dividia entre os que estavam no poder, os que lutavam por estar ali e uma grande maioria que não queriam ou que nem sonhavam com chegar lá. Como se tratava já de uma república, os dois primeiros grupos se disputavam a simpatia dos outros, que votavam. Fausto e Olímpio eram os líderes do andar de cima. Monsenhor agradava os nostálgicos do Império e os senhores de engenho; Fausto, os profissionais liberais e os pequenos proprietários.

Assim, uma finalizada tragicamente a batalha pessoal entre os dois políticos, começaria a batalha propagandística, a luta pela imposição dos símbolos. Uns e outros, correriam a pendurar retratos nos edifícios e acunhariam medalhas, broches e gargantilhas .

Logo depois das mortes, o Sergipe era governado pelo partido do finado Olímpio e os ‘faustistas’ eram perseguidos. A autoridade pública arrancava de seus corpos os adornos com o retrato de Fausto e quem se resistia levava pau. Para 1908, a dois anos da tragédia, os conservadores perdem espaço político e a violência cede.

Na paz, faustistas e olimpistas começam a pensar nas estátuas e, assim, encenam uma nova batalha. A empreitada não é barata. Fromam-se listas de subscrição para receber doações. Na de Fausto Cardoso tem operários, padres, dentistas, professores, dez por cento são mulheres. Os aderentes ao monumento de Olímpio reúnem um público mais seleto: desembargadores, juízes, capitães, proprietários rurais.

Os faustistas conseguem o dinheiro em onze meses. Os do Olímpio têm mais dificuldades. Quando o escultor carioca termina a estátua do monsenhor, eles só contam com a terceira parte do montante acertado e o artista não entrega a peça.

Assim, em 1912, ergue-se a estátua de Fausto Cardoso, de frente para o rio Sergipe enquanto a estátua do mosenhor dorme num atelier do Rio de Janeiro à espera de seu resgate. Há uma manobra para tirar o dinheiro que lhes falta das contas do estado, mas, a essa altura, o grupo já não tem a eficácia de outrora para aceder alegremente ao tesouro público.

No final, quando a facção dos ricos consegue juntar o dinheiro, o espaço que mira ao rio está ocupado e tem nome: praça Fausto Cardoso. A estátua do Olímpio ficará una quantos metros mais para dentro.


Fonte: Batalhas da Memória Polítca em Sergipe, de Giliard da Silva Prado.

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