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Foto do escritorIgor Salmeron

Zé Peixe, um oceano de amor por Sergipe

Se existe um personagem célebre na História das Personalidades de Sergipe, este sem dúvida alguma, é o inesquecível Zé Peixe. O homem, a lenda, o senhor que deixou sua marca registrada no coração de cada sergipano que sabe reconhecer os filhos mais ilustres desse esplêndido cenário telúrico.



Não precisa ser data especial para rememorarmos a bela história de Zé Peixe, o homem que dedicou toda sua vida à profissão e sua família. Dotado por honestidade ímpar, sempre frequentou às missas da Igreja do São José ou do Colégio Arquidiocesano e participava ritualmente de todas as comemorações da vetusta Capitania dos Portos. Seu glorioso nome? José Martins Ribeiro Nunes, sinônimo de altiva humildade, resistência e paixão incondicional pelo mar, sendo um dos sergipanos mais notórios que já passaram por aqui.

Não é todo dia que podíamos ver um franzino senhor beirando seus mais de 70 anos de idade e que ainda costumava saltar 18 metros do alto de um navio cargueiro no meio do oceano. Nadava como pouquíssimos, e voltava depois de algumas horas para a costa com admirável bom humor e energia de sobra. Essa lendária figura nasceu em Aracaju num dia 05 de janeiro do ano 1927 e costumava entoar: “banho, só de mar”. Enquanto todos os seus amigos atravessavam o Rio Sergipe e iam para as praias de canoa, Zé Peixe atravessava a nado. Seu passatempo favorito era cruzar o rio para pegar frutas dos cajueiros na outra margem, mesmo contrariando a vontade dos seus preocupados pais.


Contando apenas 11 anos de idade, já sendo exímio nadador, Zé Peixe foi flagrado mergulhando próximo a Capitania dos Portos pelo então comandante da Marinha Aldo Sá Brito de Souza, o mesmo lhe forneceu o mítico apelido que o tornaria famoso por toda sua extraordinária vida. Mesmo com a insistência dos pais, Seu Nicanor Nunes Ribeiro e de Dona Vectúria Martins para que estudasse, Zé Peixe só queria saber mesmo era de praia, observando atentamente o vai e vem dos navios, algo que o maravilhava. Ademais, ajudava os capitães locais com a mudança dos bancos de areia do rio.


A essa altura já era um Prático e não se dava conta. Com seus 20 anos, através de incentivo da sua figura paterna, Zé Peixe participou do concurso de Prático da Capitania dos Portos local e acabou sendo aprovado com louvor, ingressando assim na profissão que exerceria por mais de seis décadas. Podemos afirmar que é raríssimo encontrar nos dias atuais homens com a simplicidade de Zé Peixe. Viúvo por 25 anos da Senhora Maria Augusta de Oliveira Nunes e sem filhos, era um apaixonado irremediável pelo que fazia, morou sempre na mesma residência que ficava em frente ao Rio Sergipe, na atual Avenida Ivo do Prado desde criança até o seu falecimento.


Na Praticagem, Zé Peixe logo se destacou por seu intenso conhecimento sobre as tortuosas correntezas, mudanças nas ventanias e profundidade da água na barra do Rio Sergipe, uma das entradas portuárias mais complexas do Brasil. É algo unânime: Zé sabia manobrar um barco em segurança como ninguém. A forma com que exercia a sua profissão continua sendo inimitável, por isso Zé Peixe chamou logo a atenção da mídia e de capitães pelo mundo inteiro.


Para termos uma ideia do seu talento nato, quando algum navio precisava sair do porto com a orientação de um Prático, Zé Peixe prontamente subia a bordo trajando apenas bermuda e camiseta, e claro que dispensava o barco de apoio para o seu retorno, já que voltava nadando. Assim que a manobra estava concluída, ele juntava seus pertences e saltava de maneira singular do parapeito das embarcações, realizando seus faraônicos pulos a mais de 15 metros de altura até o mar, para ainda depois seguir nadando mais de 10 km até a costa, assomando 10 km de caminhada até a Capitania dos Portos, rotina que contabilizava mais de 3 horas, à qual ele encarava com inestimável leveza e alegria.


Esse esplêndido hábito de Zé Peixe o tornou um Homem único em Sergipe e no Brasil. Não vamos encontrar jamais um amor tão genuíno como o que Zé Peixe nutria pelo mar. Sua forma de trabalhar continua sendo paradigma imperecível, mesmo com idade avançada causava admiração aos comandantes mais renomados. O arrebatamento e respeito que Zé Peixe provocava valia para todos os colegas, que até hoje o tem como homem íntegro e sem máculas. A história biográfica de Zé Peixe é fecundo oceano de amor por todos os sergipanos. Se existe uma pessoa que representa o nosso mais digno espírito de Sergipanidade, esta indubitavelmente é Zé Peixe, pois honrou a imagem do Estado de Sergipe tanto em nível local quanto além-fronteiras.


Deixou a Praticagem contando 82 anos de idade. Ao longo das suas seis vívidas décadas de carreira, Zé Peixe deixou marca de bravura por onde passou e pelos prêmios que recebeu ao longo da sua invejável existência. Quando tinha 25 anos, na companhia da irmã Rita, conseguiu salvar três velejadores do Rio Grande do Norte quando a embarcação virou no mar revolto. Outro caso que podemos destacar foi o do Navio Mercury, que pegou fogo em alto mar com diversos funcionários da Petrobrás.


Zé Peixe audacioso, ignorou o risco de explosão, e foi até o navio flamejante, subiu a bordo e levou a embarcação até um ponto confiável em que a tripulação pudesse saltar e nadar até a praia em segurança. Dentre as premiações, podemos elencar a Medalha ao Mérito do Rio Grande do Norte, a Medalha de Ordem ao Mérito Serigy, sendo esta a mais alta condecoração do município de Aracaju. Foi agraciado ainda com a Medalha Almirante Tamandaré, que homenageia instituições e pessoas que tenham relevantes serviços na divulgação ou no fortalecimento das tradições da marinha no Brasil.


Não podemos deixar de mencionar que teve também a honra de ser um dos seletos escolhidos para conduzir a tocha pan-americana em Sergipe durante os Jogos Pan-Americanos no ano 2007, realizando o trajeto de barco. Não há exagero em afirmar que Zé Peixe é o Cidadão Sergipano do Século XX. Faleceu num dia 26 de abril do ano 2012, e fica eternizado na História de Sergipe. Conhecido por todos, seu inolvidável velório acabou lotando a Igreja de São José contabilizando mais de 400 pessoas entre amigos, fãs, colegas e autoridades locais.


Conclui-se que seu jeito trabalhador, corajoso e dotado por ímpar retidão de caráter continuam sendo atributos que ecoarão por vindouras gerações. Não é à toa que ao longo do tempo, foi tema de inúmeros jornais, revistas, obras, entrevistas e das mais variadas reportagens televisivas, tanto nacionais quanto internacionais. Seu eminente busto está na Praça dos Heróis, na Capitania dos Portos. Existe uma estátua dele no Memorial de Sergipe e outra no Espaço Zé Peixe, museu e centro cultural edificado para preservar sua comovente história tecida na beira das águas do Rio Sergipe e transmitida merecidamente para o mundo.

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